Como se dá o desenvolvimento visual após o nascimento
- Dr. Pedro Barros
- 20 de abr. de 2016
- 3 min de leitura

Aquando do nascimento as estruturas do sistema visual estão já todas desenvolvidas. No entanto, a visão é ainda muito rudimentar, havendo no início apenas percepção de vultos. Para o desenvolvimento visual ocorrer da melhor forma, e num curto período de tempo, é fundamental que haja um estímulo visual adequado.
Este desenvolvimento da visão ocorre a nível cerebral e requer um bom funcionamento de todas as estruturas oculares; é necessário que não haja obstrução da passagem de luz até que esta chegue à retina, que o sistema óptico do olho consiga focar a imagem de forma adequada, que haja simetria nas imagens captadas pelos dois olhos e que estes se encontrem alinhados para que possa haver um adequado processamento a nível cerebral das imagens captadas por ambos os olhos. Caso haja algum factor que impeça que estes processos decorram todos em simultâneo, pode haver dificuldade (ou mesmo impossibilidade) no desenvolvimento da visão de um ou, em casos extremos, em ambos os olhos.
COMO EVOLUI A VISÃO NOS PRIMEIROS MESES DE VIDA?
Logo após o nascimento, apesar do aparelho ocular estar já totalmente funcional, a visão do recém-nascido é de má qualidade. Apercebem- -se da presença de objectos e de faces humanas pelo grande contraste que formam e, nas primeiras semanas, movimentam a cabeça quando querem mudar o ponto que pretendem visualizar. A partir dos 2 a 3 meses devem começar a seguir objectos (faces humanas, brinquedos, luzes,...). Pelos 4 meses já deve existir capacidade de acomodação (focagem de objectos ao perto) com consequente convergência dos olhos quando focam um objecto ao perto. O alinhamento ocular pode não estar presente em todos os momentos, durante os primeiros 6 meses de vida, pelo que desvios oculares intermitentes (estrabismo) podem ocorrer e não ser necessariamente sinónimo de anomalia.
QUAL A ALTURA IDEAL PARA SE DIAGNOSTICAR UMA ALTERAÇÃO QUE POSSA IMPEDIR UM NORMAL DESENVOLVIMENTO VISUAL?
Logo pela altura do nascimento é avaliada, geralmente pelo Pediatra, a presença de uma boa transparência das estruturas oculares. Alterações como uma catarata (que diminuem a transparência do sistema óptico, impedindo assim uma boa captação da imagem pela retina) ou uma ptose signi cativa (“pálpebra descaída”) devem ser tratadas ainda nos primeiros meses de vida. À medida que o tempo vai passando a plasticidade cerebral para o desenvolvimento visual vai diminuindo, sendo mais difícil de reverter um processo de ambliopia (vulgo “olho preguiçoso”).
Suspeitas de estrabismo devem ser avaliadas ainda no primeiro ano de vida a fim de se excluir um verdadeiro estrabismo, que quando presente pode ser muitas vezes tratado com prescrição de óculos. Caso não seja possível correcção do estrabismo com óculos é fundamental haver períodos regulares de oclusão (“ocluir um dos olhos com penso”) de forma a estimular visualmente ambos os olhos, prevenindo assim o desenvolvimento de ambliopias graves. Ambliopias causadas por alterações refractivas (miopia, hipermetropia, astigmatismo, anisometropia) dependendo do valor do erro (dioptrias) podem ser tratadas até aos 6-7 anos, sendo no entanto muito mais facilmente tratadas e com mais garantias de sucesso aos 2 - 3 anos do que aos 6 - 7 anos de idade.
A idade geralmente referida como sendo adequada para uma primeira avaliação visual é pelos 3 - 4 anos. Isto deve-se ao facto de nessa altura já haver uma colaboração suficiente para se conseguir uma quantificação da acuidade visual.
Dr. Pedro Barros, Médico Oftalmologista (Sub-especializado em Oftalmologia Pediátrica)
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